O desafio de criar estratégias para a inclusão

Cláudia A. Bisol e Carla B. Valentini

Boaventura de Souza Santos, sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal) e da Universidade de Warwick (Inglaterra) enuncia, em poucas palavras, a complexidade de pensarmos a diferença e a igualdade:

Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades (Souza Santos, p. 56).

Estas palavras podem nos ajudar a pensar sobre o que deve ser igual e o que deve ser diferente, ao nos depararmos com a questão de pessoas com deficiência. Há professores e gestores que acreditam que devam tratar todos os seus alunos ou funcionários da mesma maneira, para não fazer injustiças. Sim, isto vale, nos diz Boaventura de Souza Santos, nas situações em que tratar de modo diferente acaba por fazer com que alguns sejam tratados como sendo inferiores a outros.

No dia-a-dia das escolas e empresas, há muitas situações nas quais tratar a todos da mesma maneira é cegar-se para diferenças importantes e forçar uma igualdade que não leva em consideração a singularidade.

A questão é mesmo complexa. Para dar conta desta complexidade precisamos nos preocupar em oferecer as melhores condições possíveis para a aprendizagem e o trabalho. Para isto, é necessário buscar estratégias.

Em uma empresa, cabe aos gestores pensar que podem existir outros modos de organizar os processos e as rotinas de trabalho. Também é importante estabelecer metas condizentes com o potencial de cada um para que o trabalho tenha significado, contribua para o enriquecimento da pessoa, da equipe e da organização.

Em uma escola, cabe aos professores repensar o currículo, considerando a singularidade do aluno com deficiência. Isto envolve a flexibilização de critérios e procedimentos pedagógicos, medidas metodológicas diferenciadas, avaliação que promova e contemple diferenças individuais, diversificação de técnicas, procedimentos e estratégias de ensino, valorização das potencialidades, etc. (Heredero, 2010).

A Educação Física foi, por muito tempo, uma das áreas que mais deixou de lado os alunos com deficiências físicas. Felizmente, professores de educação física começaram a perceber que podem adaptar modalidades esportivas e desenvolver jogos e brincadeiras para que todos os alunos possam participar juntos de suas aulas.

Existe mais de uma forma de caminhar, de correr e de vencer desafios.

Um exemplo: pense em um estudante com deficiência física. Imagine que ele tenha algumas dificuldades motoras nos membros superiores. Estas dificuldades tornam difícil para ele segurar um lápis ou uma caneta e manusear livros, cadernos e folhas. Mas a professora passou uma atividade no quadro e todos os alunos devem copiá-la. Uma professora atenta às possibilidades, que não se prende às limitações e disponível para criar estratégias, vai se dar conta que este aluno não conseguirá copiar no mesmo tempo dos demais. Ele poderá levar muito tempo e a tarefa poderá ser extremamente cansativa para ele. Uma estratégia simples é oferecer a atividade digitada para colar no caderno. Sim, é algo que se faz diferente para este aluno. O que permanece igual: ele precisa realizar a compreensão da atividade e resolvê-la, assim como os demais.

São muitas as situações cotidianas que podem apresentar soluções semelhantes. Teclados adaptados podem permitir a um profissional a autonomia necessária para utilizar o computador, garantindo a realização de muitas tarefas importantes no trabalho.

O assunto é amplo e há muito material disponível para orientação, ideias, sugestões. Mãos à obra!

 

Bibliografia
Souza Santos, B. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
Heredero, E. S. A escola inclusiva e estratégias para fazer frente a ela: as adaptações curriculares. Acta Scientiarum Education, 32(2): 193-208, 2010.
Moreira, L. C. & Baumel, R. C. R. de C. Currículo em educação especial: tendências e debates. Educ. rev. [online].17, pp. 125-137, 2001.

Para citar este texto
Bisol, C. A. & Valentini, C. B. Adaptações Curriculares e Deficiência Física. Projeto Incluir – UCS/FAPERGS/CNPq, 2015.  Disponível em: <https://proincluir.org/deficiencia-fisica/estrategias/27-7-2024