• Darlize Machado da Rosa, 27 anos

    É muito bom, legal e muito importante pra mim ser recepcionista na APAE, ser amiga, companheira e ajudar os alunos. A escola é importante porque tem muita gente que gosta de mim.

    Minha rotina é simples, gosto de ver as novelas, uma delas Carrossel, que eu amo. As vezes eu leio um bom livro, escuto música, a banda que eu mais gosto é Roupa Nova. Gosto de ajudar minha mãe, também … Quando chega sábado e domingo eu lavo a louça, seco a louça, tiro o pó, arrumo a minha cama e assim vai...

    Darlize Machado da Rosa

    27 anos

  • Fabian Vergani, 17 anos

    R: Fabian, o que você mais gosta?

    F: Ivete [Sangalo] e pipoca.

    R: Gosta muito de pipoca então?

    F: E macarrão.

    R: Aonde que você estuda Fabian?

    F: APAE

    R: E o que você acha mais legal na escola?

    F: Cinema

    Fabian Vergani

    17 anos

  • Júlia Maria Bisol, 16 anos

    Eu acordo, tomo o café, depois tem a… hum... higiene pessoal. Depois eu canto, eu gosto de cantar, várias músicas, todas as músicas. (...) Gosto de violão e gaita, sei os dois.

    Júlia Maria Bisol

    16 anos

  • Lauana Araújo Busnello, 13 anos

    Adoro falar no whats com minhas irmãs, mãe e pai. Eu não sei escrever ainda, mas gravo os áudios e mando pra eles, e a gente se fala assim. E adoro o Face também, tenho muitos amigos lá, e depois além disso tudo, eu assisto novela, a das 7, 8 e das 6 também.. sou bem noveleira! Só que limpar pia e chão, aí não é pra eu!

    Amo, amo, amo a praia! Eu entro no mar, é muita água, eu posso entrar lá dentro, mergulhar e pegar na areia… É muito bom!

    Lauana Araújo Busnello

    13 anos

  • Orli Luis Salvador, 40 anos

    Eu trabalho na APAE, recebo os alunos e ajudo eles a fazerem mandalas e outros trabalhos artesanais. (...) Muitas pessoas acham que eles não se desenvolvem ali, mas eles fazem muita coisa, só precisa conhecer o jeito de cada um e ajudar.

    Meu trabalho é muito gratificante, é uma das minhas grandes paixões e eu não troco ele por nada.

    Orli Luis Salvador

    40 anos

  • Rodrigo Carlos da Silva, 35 anos

    Eu amo cavalgadas e carros de arrancada. Mas os carros de arrancada eu gosto muito.

    Eu trabalho na loja da minha mãe ajudando ela... faço café, organizo as coisas, atendo telefone... em casa eu ajudo bastante também.

    Sempre vou nas mecânicas dos carros de arrancada, tenho muitos amigos lá (...) estamos organizando uma pista de arrancada aqui na cidade.

    Rodrigo Carlos da Silva

    35 anos

QI? Inteligência e sociedade

Cláudia A. Bisol e Carla B. Valentini

No início do século XX, Alfred Binet (1857-1911) era diretor do laboratório de psicologia na Sorbonne, em Paris. A primeira escala de inteligência foi desenvolvida por ele, no ano de 1905. O objetivo era identificar as crianças que não conseguiam ter sucesso em uma sala de aula comum. O foco da escala de Binet era a resolução de problemas da vida cotidiana que envolvessem raciocínio e as tarefas seguiam uma ordem ascendente de dificuldade. Assim se originou a noção de quociente de inteligência (QI). O conteúdo do primeiro do teste, assim como dos testes subsequentes que foram aprimorando a medida, era muito relacionado à escolarização.

O teste de QI teve grande influência nos países industrializados ao longo do século XX. Mas será que esta noção de inteligência, em sua base associada a conteúdo escolares, é a única que existe?

Esta forma de analisar o desempenho das pessoas foi criada em um momento histórico específico, em um contexto escolar, em uma determinada organização social. Se olharmos para o mundo e para a história da civilização de um modo mais amplo, veremos que há outros modos de conceber a vida de um indivíduo e a vida em sociedade. Saber ler e escrever, por exemplo, é essencial no mundo contemporâneo, em uma sociedade onde toda a vida cotidiana está organizada em torno de tecnologias que exigem a leitura e a escrita. Saber caçar, pescar, encontrar comida em uma densa floresta, compartilhar, pensar em termos de grupo e comunidade mais do que em termos de individualidade, conviver intensamente com as necessidades e características uns dos outros foi e continua sendo habilidades e capacidades indispensáveis para pessoas que vivem em sociedades não industrializadas.

Portanto, o conceito de inteligência que prevalece atualmente em nossas economias industrializadas tem relação com as forças sociais, políticas e econômicas dessa forma de organização social. Pessoas em diferentes culturas podem desenvolver e valorizar diferentes habilidades, dependendo das necessidades e características da sociedade na qual vivem.

Seguindo esta linha de raciocínio, podemos associar inteligência com a condição que a pessoa tem de circular de modo efetivo em seu próprio contexto sócio-cultural. Assim sendo, deveríamos pensar a vida de uma pessoa de uma forma que vai além de conceituações restritas, objetificantes e por vezes reducionistas de inteligência ou de deficiência intelectual.

Classificar as pessoas a partir de conceitos estáticos, que não consideram aspectos relacionais de modo mais amplo, pode levar ao preconceito, à discriminação e à impossibilidade de construir formas singulares e criativas de viver.

De modo geral, as pessoas atualmente traçam um caminho que levaria para felicidade relacionado a grandes conquistas pessoais e profissionais que exigem domínio das habilidades valorizadas em nossa sociedade: cursos, diplomas, línguas estrangeiras, domínio de tecnologia, entre tantas outras questões que proporcionam alto desempenho e competitividade no mercado. Para a grande maioria, o conceito de felicidade está fortemente ligado ao conceito de sucesso, e este, por sua vez, acaba sendo representado por um conjunto de valores cotidianamente realçados: um tipo muito restrito de beleza, associada ao que os meios de comunicação vendem (top models e artistas) e um tipo bem específico de riqueza (materializada em roupas, carros, casas espetaculares, viagens, etc.). Parece haver muita dificuldade de enxergar e valorizar outras formas de viver.

Que tipo de beleza e riqueza você vê? Você encontra beleza e riqueza na vida das pessoas preocupadas em estar bem e construir relações verdadeiras com os outros? Você vê beleza e riqueza na vida de pessoas alegres, que apreciam momentos simples, que valorizam pequenos gestos e que se dedicam às situações da melhor maneira que podem? Você vê beleza e riqueza em um abraço apertado e em um sorriso franco?

Analise com cuidado as fotografias e depoimentos de pessoas com deficiência intelectual que destacamos acima. Suas reações diante dessas fotografias e depoimentos dependem de suas atitudes diante da vida e dos seus conceitos do que seja felicidade e sucesso. Permita-se questionar profundamente, até porque é difícil quebrar os paradigmas que são constantemente transmitidos pelos filmes, propagandas e mídias sociais. Permita-se questionar porque este é o caminho para que possamos diminuir o preconceito em relação às pessoas que não se adequam às normas sociais em termos de aparência e comportamentos, que não obtêm sucesso escolar ou que não são competitivas no mercado de trabalho.

Como podemos desenvolver uma visão mais íntegra e integradora de vida em sociedade, que valorize também as pessoas com deficiência intelectual?

Bibliografia
Parmenter, T. R.. Keynote V: The place of a person with an intellectual disability in modern society. Challenges at the person and community levels. (s.d). Disponível em http://www.jldd.jp/gtid/acmr_19/pdf/3.pdf. Acesso em 31 de agosto de 2017.

Para citar este texto
Bisol, C. A. & Valentini, C. B. QI? Inteligência e sociedade. Projeto Incluir. UCS/CNPq/FAPERGS, 2017. Disponível em: <https://proincluir.org/deficiencia-intelectual/qi/27-7-2024